As férias acabaram e em agosto o Moviecom Arte volta a ter sessões às terças-feiras às 14 horas. Ainda bem pois a seleção de filmes deste mês está incrível e você merece uma oportunidade a mais para ver e até para rever os filmes em cartaz.
O grande destaque do mês é para o cinema francês, com produções que brilharam nos principais festivais do mundo e também nas principais mostras de cinema aqui no Brasil.
Veja a programação e reserve as datas em sua agenda:
DIAS 03, 04 E 06
UM HOMEM FIEL
De Louis Garrel
Este é o segundo longa dirigido pelo galã francês Louis Garrel. Após Dois Amigos (20015), o filho de Philippe Garrel volta ao tema dos triangulos amorosos, indeciso entre as duas mulheres que estão ao seu redor.
Em “Um Homem Fiel” ele aparece novamente como Abel – o mesmo nome do seu personagem em Dois Amigos – rapaz que, certo dia, ao se preparar para ir ao trabalho, recebe sem meias palavras a notícia da gravidez de sua namorada, Marianne (Laetitia Casta).
Ao invés de brigas, discussões, choros ou protestos, a reação dele é tipicamente francesa e com um “bom, preciso ir agora para não chegar atrasado”, os dois se separam, os anos se passam e o reencontro se dá quase uma década depois.
E quando as coisas parecem se acertar, enfim, surge uma nova paixão, Eva (Lily Rose), cunhada de Marianne.
O roteiro escrito em parceria com o grande Jean-Claude Carrière, autor de clássicos como O Discreto Charme da Burguesia (1972) e Esse Obscuro Objeto do Desejo (1977) , é um drama romântico que discorre de maneira atraente sobre várias questões.
“Um Homem Fiel” integrou a Mostra Varilux de Cinema Francês 2019 e abre a nossa programação de agosto, com exibição nos dias 03 e 04 de agosto às 11 horas, e na terça dia 06 às 14 horas.
DIAS 10, 11 e 13 .
JORNADA DA VIDA
De Philippe Godeau
Uma fábula simples mas carregada de densidade, “Jornada da Vida” é o novo longa de Phillippe Godeau que conta a jornada de Yao, um garoto (vivido pelo estreante Lionel Louis Basse) para encontrar seu escritor favorito, Seydou Tall (Omar Sy).
Yao mora numa comunidade no interior do Senegal e, ao descobrir que seu escritor favorito vem ao país participar da Bienal, desloca-se quase 400 quilômetros por um autográfo do ídolo. Comovido pelo empenho do garoto, Seydou se dispõe a levá-lo de volta à sua casa. A partir daí, vemos uma espécie de road movie que faz Seydou, um francês de família senegalesa, como muitos na França, reencontrar-se com suas origens africanas.
A direção de Phillipe Godeau traz uma poesia visual para compor a ambientação senegalesa. Planos inspirados fazem dessa história profunda também um prazer visual pelo que aquele país tem de belo e também de feio.
A presença da religião e o tema da colonização marcam fortemente o roteiro, fazendo com que essa produção seja também uma obra decolonial, ou seja, através da qual se repensa algumas das consequências da dominação de países externos sobre outros – como se deu no Brasil por Portugal e no Senegal pela França.
“Jornada da Vida” conduz o espectador a uma viagem cheia de cor e força. Um deleite para quem busca outras narrativas e pontos de vista na tela grande.
Este é o filme que o Moviecom Arte aprsenta nos dias 10 e 11 de agosto às 11 horas e no dia 13 de agosto às 14 horas.
DIAS 17, 18 E 20
ATENTADO AO HOTEL TAJ MAHAL
De Anthony Maras
Em novembro de 2008, um grupo de homens armados executou uma série de ataques em pontos estratégicos da cidade de Bombaim, em uma sequência de atentados que deixaram mais de 170 mortos e outras centenas de feridos.
Desde que se decidiu a retratar tais acontecimentos, que basicamente envolveram a matança indiscriminada e à queima-roupa, o diretor Anthony Maras deve ter se encontrado em uma encruzilhada quando deu início à produção de Atentado ao Hotel Taj Mahal. Há alguma maneira certa de se filmar um massacre objetivamente? É possível transformar tamanho evento em material de thriller sem descambar para o exploratório?
Atentado ao Hotel Taj Mahal apresenta-se, de fato, como um thriller, tendo seu início assim que os terroristas desembarcam de seus botes em Bombaim. com uma tensão crescente até que os disparos começam.
Enquanto isso, acompanhamos em paralelo o microcosmo do hotel Taj Mahal Palace, desde os empregados aos abastados hóspedes. Maras apresenta o ambiente do hotel com atenção especial, definindo locações chave sem exatamente mapeá-las como um todo – algo que será valioso lá na frente. A relação do hotel com os hóspedes é sintetizada com eficiência através do mantra “o hóspede é deus”, dito pelo chef Hemant Oberoi (Anupam Kher) aos seus lacaios no início do dia. A frase indica serventia, inferioridade, mas passa a simbolizar algo mais poderoso.
O roteiro de Maras e John Colee exibe uma violência objetiva, frontal e rápida, mantendo um tom uniformemente grave durante as mais de duas horas de filme. Sem nunca transformar as ocorrências em aventura, também evita o melodrama, algo notável quando se trata de uma tragédia em tamanha escala. Atentado ao Hotel Taj Mahal é um thriller, sim, mas do tipo mais cru que há, com trechos de puro terror e outros de pura humanidade.
Prepare-se para ver este filme impressionante no Moviecom Arte, dias 17 e 18 de agosto às 11 horas e no dia 20 de agosto às 14 horas.
DIAS 24, 25 E 27
A ARVORE DOS FRUTOS SELVAGENS
De Nuri Bilge Ceylan
No cinema (como nas artes em geral), quase nada é somente o que parece. A “Árvore dos Frutos Selvagens” transcende facilmente o cinema para tratar da humanidade e os muitos modos de lidar com ela.
Dentro de um contexto de diferenças entre os costumes rurais e urbanos, o filme busca tocar em pontos delicados dialogando com a dificuldade de se manter honesto consigo e com os outros; com a responsabilidade da existência (alcançando algum grau existencialista digno de Ingmar Bergman); com a responsabilidade por assim dizer – especialmente a de precisar fazer o que se diz como certo; e corroendo aquele que talvez seja o lado mais difícil da vida: o enfrentamento da própria insignificância.
As reflexões propostas pelo roteiro, aliás, mexem no vespeiro das discussões teológicas, especialmente quando, em certo ponto – e lindamente sem chegar a uma resposta exata – um diálogo sobre a adaptação necessária da religião à realidade se dá. É como querer opinar ali, participar, mas sabendo que a subjetividade escrita pelo roteiro é tão genuína quanto a do próprio cinema.
Não bastasse o peso de tanto, a precisão da direção de fotografia de Gökhan Tiryaki (prolífico cinefotógrafo turco, igualmente de Sono de Inverno) é arrebatadora. É possível que Tiryaki tenha estado tão envolvido com A Árvore dos Frutos Selvagens que tenha passado dias planejando a perfeição entre luz e sombra para cada frame, especialmente quando do uso da luz natural.
Você precisa assistir “A Árvore dos Frutos Selvagens”, um dos melhores filmes da temporada e que será exibido no Moviecom Arte nos deias 24 e 25 de agosto às 11 horas e no dia 27 de agosto às 14 horas.
DIAS 31 DE AGOSTO, 01 E 03 DE SETEMBRO
BOAS INTENÇÕES
De Gilles Legrand
“Boas Intenções” gira em torno de Isabelle, uma professora de francês que trabalha em um centro de serviços humanitários e, assim, acaba interagindo com diversos imigrantes que vieram refugiados de seus países. Ao ser convocada para alfabetizá-los, Isabelle se depara com várias dificuldades e aos poucos vai conhecendo as personas por trás das nacionalidades que representam, percebendo que todos aqueles estereótipos criados ao redor das mais diversas culturas do mundo não passam de visões preconceituosas e quebrando gradualmente a maneira xenófoba com que enxergava aquelas pessoas.
O objetivo de “Boas Intenções” é mostrar como uma mulher (europeia, diga-se de passagem) pode aprender a desconstruir seus preconceitos através da convivência com pessoas pertencentes a culturas diferentes – tudo isso através do bom humor; o que é apropriado, já que a comédia costuma ser uma forma eficaz de discutir temas sérios.
Gilles Legrand, além de dirigir, assina o roteiro em parceria com Léonore Confino. Ambos fazem de “Boas Intenções” uma obra quase politicamente incorreta mas quando analisarmos profundamente o significado do filme entenderemos o quão quebrado como sociedade nós estamos nos tornando.
Este filme será exibido nos dias 31 de agosto e 1 de setembro às 11 horas e no dia 3 de setembro às 14 horas, no Moviecom Arte.