Com apenas 6 atores e 3 locações, “A Grande Dama do Cinema” é um longa surpreendente do oscarizado diretor argentino Juan José Campanella.
Mara Ordaz, personagem central da trama, remete à Nora Desmond, protagonista de “Crepúsculo dos Deuses” (o clássico de Billy Wilder, de 1950). Mara foi uma estrela na juventude, chegou a ganhar um grande prêmio internacional (o Oscar?), mas foi esquecida com o passar dos anos.
Afastada das telas há décadas, Mara vive em uma velha mansão decadente nas cercanias de Buenos Aires com o marido paraplégico, o também ator Pedro (Luis Brandoni), o cineasta Norberto (Oscar Maritnez) e o roteirista Martin (Marcos Mundstock), todos no ostracismo, assim como ela.
Baseado no romance El Cuento de las Comadrejas, “A Grande Dama do Cinema” brinca com as convenções do melodrama para construir uma saborosa farsa sobre o próprio cinema. É ao mesmo tempo muito engraçado e bastante cruel em sua visão sobre o envelhecer em uma indústria que endeusa a juventude.
O convívio entre Marta, Pedro, Norberto e Martin reproduz de certa forma a teia de relações que um dia tiveram, quando ainda estavam na ativa. Ela, nas posição de diva, ainda que na obscuridade, os tiraniza. O marido nunca teve uma carreira a sua altura, e os outros dois de certa forma tiveram suas carreiras atreladas à dela. A imensa casa onde vivem isolados do mundo real, é um mausoléu de lembranças, forrado de cartazes, fotos, troféus e lembranças. Dividem espaço com ratos e a falta de dinheiro.
Tudo muda quando entram cena dois jovens aparentemente deslumbrados com o passado glorioso de Mara. Eles prometem levá-la de volta à ribalta e tentam convencê-la a vender a casa, sem levar em consideração que ela não vive só, que sua vida está profundamente ligada a de seus companheiros. Carente de atenção e seduzida pela possibilidade de resgatar seus dias de estrela, ela sucumbe.
A trama, cheia de reviravoltas, é, no fundo, uma grande homenagem ao cinema, tanto aos seus gêneros e formatos narrativos quanto a sua mística, por vezes aterrorizante, assim como em Crepúsculo dos Deuses.
Campanella prova, mais uma vez, ser um hábil artesão, um ótimo contador de histórias. O elenco de grandes veteranos do cinema argentino dá um verdadeiro show de interpretação e são o ponto alto deste filme.
Estrelado por Graciela Borges, Luis Brandoni e Oscar Martinez, “A Grande Dama do Cinema” é o filme que o Moviecom Arte apresenta nos dias 06 e 07 de julho, às 11 horas.
Ficha Técnica
Título original: El cuento de las comadrejas
Nacionalidades: Argentina, Espanha
Gêneros: Comédia, Drama
Ano de produção: 2019
Estréia: 16 de maio de 2019 (Brasil)
Duração: 2h 03min
Direção: Juan José Campanella
Elenco; Graciela Borges, Oscar Martínez, Luis Brandoni, Marcos Mundstock, Clara Lago, Nicolás Francella e Maru Zapata
Roteiro: Juan José Campanella
Trilha sonora: Emilio Kauderer
Direção de fotografia: Félix Monti
Direção de arte: Nelson Noel Luty
Figurino: Cecilia Monti
Distribuição: Fênix Filmes